O nosso Cafezinho na Nave de hoje é com a pioneira no estudo científico das HQs no Brasil.
Eu tive o prazer de assisti-la na Gibicon, e fui agraciada com alguns pontos dos seus quarenta anos de carreira em docência e pesquisa, estou falando da mulher que é referência e exemplo quando se fala de quadrinhos, estou falando da Sonia Luyten.
Doutora em Ciências da Comunicação, Sonia fundou o primeiro curso de Histórias em Quadrinhos do mundo, na Escola de Comunicações e Arte (ECA/USP), organizou a primeira gibiteca e mangateca do Brasil e fundou também a ABRADEMI (outrora chamada de Associação dos amigos dos mangás).

Sonia é autora de diversos livros sobre quadrinhos, mangá e cultura e é amplamente premiada por seus trabalhos.
Morou por 15 anos no exterior, como professora convidada em universidades do Japão, Holanda e França.
No período de 2000-2005, foi professora e Coordenadora do Mestrado em Comunicação da Universidade Católica de Santos e presidiu o Troféu HQ MIX de 2008 a 2011. Além disso, a presença de Sonia é atração obrigatória nos melhores eventos de quadrinhos.
Ter a oportunidade de conhecer a Sonia pessoalmente e ter um aperitivo de sua história de vida e de profissão, na Gibicon, foi certamente um presente.
A Sonia representa os quadrinhos com mais do que paixão, seu trabalho é a expressão e o registro do desenvolvimento do pensamento científico sobre quadrinhos, reconhecida dentro e fora do país e é com grande respeito e admiração que a chamei para tomar um cafezinho com a gente.
Você gostou da Gibicon? Quais foram as atividades que você participou e quais foram suas impressões sobre a produção de conteúdo no evento?
A Gibicon #0 foi só uma amostra do que seria este evento (Gibicon #1). Classifico de excelente pelo alto nível da programação. Eu participei, enquanto mediadora de duas mesas e dei uma palestra sobre meus 40 anos de atividades como docente na área de Histórias em quadrinhos.
Como a programação de palestras e debates foi bastante intensa, participei de algumas delas.
A programação enfocou muitas áreas que eu classifico de importantes para as HQs:
1- Mulheres nos quadrinhos – Acredito que deva continuar nas próximas edições para dar luz e voz às desenhistas brasileiras que estão no mercado.2- Novos rumos para a HQ nacional –Revelou para o público novos talentos e aqueles que estão dando novas contribuições no Brasil.3- Palestras autobiográficas –Achei sensacional o destaque dados às carreiras de quadrinistas, pesquisadores, dando a oportunidade do público conhecer um pouco mais fundo quem é quem no quadrinho brasileiro (e internacional) 4- Grafipar e Gibiteca –O destaque dado ao Paraná e Curitiba em termos de produção e história (como foi o caso da Graficar)5- Exposições – As exposições foram de tirar o fôlego de tão boas, temática bem escolhida e qualidade.
7- Locais – A escolha de dar destaque à programação em diferentes locais da cidade.6- Convidados – A equipe da Gibicon escolheu a dedo os convidados, todos de grande gabarito, dando muito prestígio ao evento.
O que a Gibicon representa ou pode vir a representar para os quadrinhos?
A Gibicon tem seu espaço garantido no Brasil e já faz parte do calendário de atividades de Quadrinhos no país. Ela representa mais um passo em direção a consolidação da produção de HQ no país, a valorização da pesquisa acadêmica, um olhar direcionado através das expoisções, dando ao público específico e ao público geral os passos firmes do mercado brasileiro.
Além disso, representa muito para Curitiba e ao Paraná pois atrai gente do Brasil inteiro para conhecer e apreciar a cidade.
Sendo pioneira no estudo científico dos quadrinhos, qual é a dica que você dá para quem pretende estudar o assunto em âmbito acadêmico?
Primeira coisa é gostar de quadrinhos. Tem de ser uma paixão.
Depois separar este aspecto (paixão, ser fã) e colocar um olhar de pesquisador para relevar o que se está estudando.
Convencer o seu orientador (a) de que esta área é importante também é fundamental.
Pode-se ver tudo através dos quadrinhos: História, Português, Geografia, Física, Literatura, Medicina, enfim, as HQs contam a História do século XX e agora do Século XXI sem censura, com humor, e através disto dando uma visão bastante aprofundada em qualquer setor do conhecimento humano.
Qual a importância da produção acadêmica focada em quadrinhos?
A pesquisa acadêmica é o filé mignon do que existe de mais novo na área, com estudo detalhado no item que o aluno(a) está trabalhando. As editoras brasileiras ainda não perceberam isto e noto que nossa linha editorial carece de ter uma visão mais ampla ao editar as teses.
Como presidente do Troféu HQMIX, abri um novo setor de premiação: teses acadêmicas sobre Histórias em Quadrinhos e Humor Gráfico em 3 vertentes: TCC (Trabalho de conclusão de curso), Mestrado e Doutorado. O candidato, depois de passar por suas banca examinadora em sua universidade, passa por uma comissão de Doutores e Mestres do Troféu HQMIX para uma nova avaliação sob outros pontos de vista para se eleger como o melhor do ano.
Além disso, a produção acadêmica (que enfoca pesquisa nas HQs nacionais) estará contando em detalhes nossa história. Minha experiência de lecionar e morar em outros países (Japão, França e Holanda) além de visitar outros eventos de HQ na Europa, Asia e Estados Unidos só comprova isto.
O mundo conhece a história dos Quadrinhos de outros países através das pesquisas feitas e a publicação em livros. Nossa bibliografia sobre HQ está começando a engatinhar e espero que com minha contribuição, batendo nesta tecla há muitos anos, seja um sonho realizado.
Sonia é autora dos livros Comunicação e Aculturação, O que é Histórias em Quadrinhos, Histórias em Quadrinhos – leitura crítica, Cultura Pop Japonesa: mangá e animê, capítulos em livros e centenas de artigos em jornais e em revistas.
A Gibicon foi também a ocasião do lançamento da 3ª edição do seu livro Mangá, o poder dos quadrinhos japoneses, obra que será resenhada em breve no Cruzador Fantasma.