Cafezinho na Nave / O mundo colorido de Cris Peter

A Cris nasceu em Porto Alegre em 15 de Junho de 1983, graduada em Publicidade e Propaganda pela PUC-RS, trabalha com editoras como Dark Horse, DC Comics e Marvel Comics e já coloriu personagens como Superman, Batman, Justiceiro, Capitão América, Quarteto Fantástico, X-men, entre outros. Foi indicada ao Eisner Awards por seu trabalho com a  graphic novel “Casanova”, dos gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon e em 2012, e fez as cores da arte de Danilo Beyruth na primeira Graphic MSP da Maurício de Sousa Produções: “Astronauta: Magnetar” (resenhada pelo Cleverson aqui).

Cris, explica um pouco sobre o seu trabalho. Em que parte da produção você entra?

Oi! Então, eu sou a penúltima pessoa a colocar as “mãos” na revista antes de ela ir para a gráfica. Primeiro o roteirista cria a história, depois o desenhista (que pode ser dois: um que esboça o lápis e outro que cuida da arte-final a caneta/nankin) sequencia e produz a ilustração das páginas, depois vem o colorista (eu!) pra dar mais vida e dimenção ao desenho e, por último, o pessoal dos balões na fase de letreiramento. Essa linha de produção com a equipe tão dividida é mais um modelo norte-americano, pois lá a produção de quadrinhos é muito mais insana do que aqui no Brasil. Lá são vários títulos mensais.

Como você descobriu seu talento para as cores?

Primeiramente eu coloria porque achava divertido. Sempre gostei de livros de colorir quando era criança, então quando descobri o photoshop, foi amor a primeira vista. Simplesmente comecei a colorir e meus amigos começaram a me oferecer trabalhos e foram anos e anos aprendendo a lidar com as cores. Não sei se o que eu tenho é talento ou conhecimento adquirido com os anos.

Preview Casanova – AVARITIA 02, written by Matt Fraction, with art by Gabriel Bá, colors by Cris Peter

Você se imagina fazendo outra coisa?

Claro que sim! hahaha! Desculpa, mas é verdade mesmo. Me imagino fazendo várias coisas diferentes disso, mas não tenho interesse, na verdade. Gosto do mercado onde estou inserida, e gosto da possibildade de, de vez em quando, dar uma fugida disso e participar de uma produção de vídeo, ou de uma peça de teatro, enfim. O maravilhoso desse meu trabalho é justamente o fato de ele não me prender. Posso fazer o que eu quiser pra quebrar a rotina, como por exemplo, escrever um livro.

Astonishing X-Men #62 Roteiro por Marjorie Liu Arte por Gabriel Walta Cores Cris Peter

Qual a sua maior satisfação com este trabalho?

Receber o feedback das pessoas que percebem o meu trabalho. Acho muito legal a resposta do pessoal. Ha pouco tempo atrás, muita gente não sabia que a minha profissão existia, hoje o pessoal está mais por dentro e é muito legal ver que a galera se interessa pelo meu trabalho.

Se alguem quiser ser colorista/color artist, por onde começar?

Comece praticando. Não é fácil ser colorista. Você olha o trabalho de alguns coloristas estabelecidos por aí e pode até pensar “credo! Que trabalho tosco! EU posso fazer isso”. Só que para chegar a ter uma chance com um editor seu trabalho tem de ser mais do que perfeito. Provavelmente o colorista tosco que está colorindo essa revista que você viu deve ser muito melhor, só que os prazos apertados acabam estragando a qualidade do trabalho dele. Então o primeiro passo é escolher um software e praticar, pedir opiniões, ver referências, etc. Deixe seu trabalho perfeito, eventualmente algum contato seu no facebook, ou no Deviant Art vai te descobrir.

Quem você admira na sua área? Que artistas ou trabalhos te inspiram?

aiiii… todo mundo me faz essa pergunta e eu nunca sei responder ela direito. hahahahaha Na verdade eu não tenho muitos favoritos. Eu gosto de misturar estilos, pesquisar não só quadrinhos, mas também fotos e ilustrações. Sempre depende muito da inspiração que estou buscando. O Dave Stewart vai ser pra sempre meu colorista mestre, mas minhas influencias são tão mistas que nem tenho como citá-las.

Dave Stewart – Joe the Barbarian

Como é o mercado de trabalho?

É difícil. Existem muitos coloristas, e cada um consegue pegar mais de uma revista para fazer mensalmente, então para entrar no meio é necessário muita persistência e contatos. Mesmo com um talento nato, é difícil. Seu trabalho pode ser lindo, mas se eles não tem revistas pra te oferecer, você não vai conseguir entrar. É necessário entrar em contato com um editor na hora certa.

Preview Daken Dark Wolverine 10, written by Rob Williams, with art by Giuseppe Camuncoli, colors by Cris Peter

Soubemos que você está escrevendo um livro. Conte um pouco sobre este projeto.

Sim! Finalmente! É um sonho antigo esse de escrever. Acho que é um sonho que tenho desde os meus 15 anos. Claro, meu sonho maior é o de escrever minhas histórias, mas como percebi o interesse do pessoal quando eu escrevia no meu blog ou no portal Rio ComicCon a respeito de cores, resolvi começar com esse livro teórico. Já escrevi minha monografia para a faculdade a respeito de cores nos quadrinhos, então quero fazer uma espécie de sequência dela, com uma linguagem bem mais divertida. Sem aquelas chatices de ABNT e aquele monte de regrinhas que não fazem sentido pra mim.

Acho que posso transmitir um ponto de vista diferente sobre o uso das cores. Como nunca achei muitos livros específicos sobre minha profissão, acabei estudando aqueles que existiam para as várias outras áreas e fiz um mash-up, aproveitando tudo o que eu podia. Acho que agora está na hora de fazer um livro sobre cor GERAL.

Algumas pessoas acharam o livro caro. Você pode nos detalhar um pouco sobre o processo de criação e o diferencial necessário nos materiais que você escolheu para a obra? Ahhh. Pois é… essas pessoas não entenderam o Catarse. O catarse NÃO VENDE O MEU LIVRO. Você está contribuindo como um investidor, e, dependendo do valor, você ganha um prêmio, e um desses prêmios é o livro físico. Aquele valor ali NÃO É O VALOR DO LIVRO, É O VALOR DA CONTRIBUIÇÃO.

Você pode doar 10 reais e depois comprar o livro em uma livraria. A escolha é sua. É muito normal esse equívoco, pois a plataforma crowdfunding ainda é nova no Brasil.

Não se trata de venda de produto e sim de viabilização de projetos através de arrecadação coletiva. Para chegar ao valor que estou pedindo, fiz orçamentos estimados e para o valor de cada prêmio, foi calculado seu custo. Para o prêmio que envolve o livro, somei o custo estimado do livro + o pacote + o envio para qualquer localidade do Brasil. Se eu não fizer esse cálculo antes, posso acabar falindo no processo. Imprimir um livro é muito caro. Ainda mais quando ele é todo colorido e deve ter um bom acabamento para não ter alterações nas cores. Fora todo o trabalho necessário de revisão, diagramação e manutenção do envio dos prêmios. É um projeto muito difícil de montar e realizar. Quem estiver interessado, planeje MUITO BEM antes de apresentar um projeto.

Colabore com o Projeto

A ideia da Cris é um livro sobre cores que tenha todo o conteúdo de teoria das cores, porém em uma linguagem agradável e acessível. Conheça o projeto dela no Catarse e aproveite que é aniversário dela para colaborar na realização deste sonho

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